conheço bem os túmulos
a fúria dos humilhados
você morreu em 17 de agosto
um rosto inchado
um fígado falido e enterrado
anônimo
quantos dias alguém chorou
de manhã cedo
a chuva escorrendo pelas
janelas do ônibus
não, nada está perdido
nem os lábios são nossos
uma língua feita de sonhos
e farrapos
tudo é uma questão de amor
e o que a gente carrega nos
ossos
ratos são sonhos de um
mundo sem dono
a lua tem dentes de mármore
e as flores são rios de sangue
quem sabe um dia a gente
encontre
tudo que nos foge
não há tempo pra tristeza
nossas asas não estão
prontas
nem fechadas