Outono
as garrafas de hoje não são mais de vidro.
uma pilha de discos velhos tem o mesmo status
de quem fuça no lixo em busca de janta.
a cafeteira esquecida na boca acesa foi jogada fora
como lâmina de gilete.
como lâmina de gilete.
tempos em que nada mais dura
e até as cartas saíram de moda.
agora—
nem todo tempo do mundo basta,
nem a beleza dos estilhaços.
nem a beleza dos estilhaços.
tempos em que tudo é descartável
e as horas desperdiçadas escorrem pela face do relógio
na voz ubíqua do alarme.
tempos em que a gente pensa
que até a gente é substituível
que até a gente é substituível
como isqueiro vazio.
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