“desculpem pelo incômodo
mas não é meu sonho estar aqui pedindo dinheiro às
11 da noite de domingo”
ele diz assim que embarca pela porta dianteira do
metrô.
também não é meu sonho estar aqui indo pro trabalho
às 11 da noite de domingo
ainda que algo incutido em mim não canse de repetir
que eu deveria dar graças a deus pelo simples fato
de ter um emprego.
de ser um “cidadão produtivo”. de estar “inserido no mercado”.
“tô desempregado
e ficaria muito grato por qualquer ajuda, um trocado ou comida”
“tô desempregado
e ficaria muito grato por qualquer ajuda, um trocado ou comida”
a maioria das pessoas a bordo faz que não ouve e
não vê
e me arrisco a dizer que ninguém aqui dentro sonhou
com a vida que leva
enquanto nas paredes do vagão um anúncio de joalheria
exibe anéis de diamantes, e um outro de uma cia.
farmacêutica pergunta:
sofrendo de depressão?
desemprego, depressão e diamantes.
o cara pedindo dinheiro passa pelo corredor do
metrô com um copo na mão
à espera de uma esmola que não vem
e quando o metrô para na estação seguinte
ele desembarca pela porta traseira
enquanto a vida que a gente não sonhou levar se
desenrola
sem novidades.