nesse passo, só vai
restar silêncio.
a poesia é um deserto
cada vez mais deserto.
poemas são miragens.
palavras
têm gosto de areia. de
lágrimas espremidas
contra a fronha do
travesseiro.
poemas são
gralhas-cinzentas
sobrevoando a calçada à
procura de comida.
palavras são migalhas.
nacos
de pão velho emaranhados
em arbustos.
poemas são cavidades ainda
mornas em camas vazias.
palavras têm
o cheiro de corpo dos
lençóis
desarrumados. poemas são
noites em claro
ensaiando perdas.
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