você
se matou com veneno de rato.
no
apartamento, caixas de remédios vazias e um prato com restos de comida
misturados
com chumbinho.
a
última vez que tinha visto teu rosto foi em rei do gado.
quando
era mais novo, passava noites em claro imaginando a gente juntos.
numa
carta você disse que estava cansada, “cansada de cabeça.”
que
não era questão de lugar—não queria mais morar “em lugar nenhum.”
que
queria partir “pra junto de deus,” se possível da mãe.
que
não queria “envelhecer e sofrer.”
sete
anos depois, leio um poema do bukowski pra brigitte bardot.
na
estação de metrô, uma velha para no meio das escadas e com a boca semiaberta
balbucia
palavras sem som,
os
longos cabelos grisalhos secos como palha,
os
olhos encrustados de remela fixos no vazio.
sinto
muito, leila, pela solidão e tristeza e as crises de pânico.
pela
retirada do útero.
por
não poder ter filhos.
sinto
muito, leila, por não ter acariciado teus cabelos negros e sussurrado
“tá
tudo bem,” mesmo não estando.
sinto
muito por tudo, leila.
pela
dor que cada um carrega como uma ilha.
pelo
teu amor que sonhei ser meu, e o meu amor que
não
pude te dar.