a perfeição não existe
nesse lugar, o sol rola entre a folhagem
sempre verde. toda a gente tem a pele clara,
e os dentes brancos como mármore polido.
suas roupas têm cor de primavera, vibrantes
e impecavelmente limpas, seus cachorros
sempre tão obedientes e bem educados.
nesse lugar toca uma música agradável o dia
inteiro, feito propaganda de margarina.
ninguém bebe ou fuma, ninguém sabe o que é
tristeza ou sente as dores do mundo, constantes
e ás vezes sem interrupção. todo mundo
se cumprimenta e é sempre domingo, de novo
e outra vez. nesse lugar tem sempre um corpo
d'água perto, a chuva é quente, acredite,
o céu é azul e é sempre verão, não importa o mês.
nesse lugar a vida só pode ser de plástico,
com o cheiro dos sabonetes de hotel. esse lugar
existe num outdoor sobre o viaduto na
parte baixa da cidade, nas telas de cinema do
shopping e nas inúmeras capas de livros
existe num outdoor sobre o viaduto na
parte baixa da cidade, nas telas de cinema do
shopping e nas inúmeras capas de livros
sem nada a dizer. nesse lugar a gente é feita de
feixes de luz, tinta sintética e megapixels.
feixes de luz, tinta sintética e megapixels.
sem carne ou osso, sem sonhos. nesse lugar,
onde um beijo tem sabor de remédio, a gente
é sem coração, sem miséria e sem valor.
é sem coração, sem miséria e sem valor.
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