há
dor quase o tempo todo em quase tudo.
impossível
não ver nas rugas do rosto,
na
bolsa dos olhos, no branco dos dentes,
no
brinde, no barulho dos talheres.
nos
copos de champanhe, nos cachorros
mortos
na beira da estrada, no bate-boca
sobre
política, na descarga correndo.
há
poesia quase o tempo todo em quase tudo.
impossível
não ver e, como a dor,
imprescindível
pelo menos às vezes
pra
seguir vivendo sem tantas visões,
sem
tantos clarões e blecautes,
tantos
pulsos e cortes e noites tardes.
há
tanta coisa o tempo todo em quase tudo
que
é preciso um filtro, uma barreira
que
não ceda à força de toda essa água
e
não nos separe.