há dor o tempo todo em
quase tudo.
impossível não ver. nas
rugas do rosto,
na bolsa dos olhos, no
branco dos dentes.
no brinde, no barulho
dos talheres.
há poesia o tempo todo
em quase tudo.
impossível não ver. no
vazio da cama,
na penumbra do quarto, na nudez dos corpos.
no espelho, na secura
dos lábios.
na luz do banheiro pelo
vão da porta,
na descarga correndo de
madrugada
e você voltando pra
cama.
há tanto o tempo todo
em quase tudo.
impossível não ver. e
impossível viver
com tantas visões, com
tantos
clarões e blecautes, tantos pulsos
e cortes e noites
tardes.
há tanto o tempo todo
em quase
tudo. e não há muro ou
barreira que resista à
força
de toda essa água e não
nos separe.
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