uma noite num colchão
inflável pode ser boa dependendo do cansaço.
no meu sonho, você me
abraça e o avião balança.
a manchete do jornal
anuncia: muito fósforo na água.
a estação do metrô alerta:
para sua segurança: câmeras de vigilância.
caminho quase correndo e
quase não reparo.
com uma ducha quente e
uma ou duas xícaras de café forte dá pra enganar o sono.
um pão de 1kg pode durar uma
semana inteira (à partir de quarta ou quinta fica
parecendo
uma pedra, mas nada que uns 10min no forno não resolva).
dá pra ver que é primavera
pelos brotos nas árvores, cada dia um pouco maiores.
alguém disse que palavras
são cacos de vidro.
silêncio acalma, páginas
em branco dão medo.
nos anos 90 um
psicanalista americano propôs que a felicidade é um transtorno
psiquiátrico.
a gente tem prazo de
validade, pergunte a qualquer espelho, calendário ou dor nova que
aparece
pelo corpo.
viver com alguém e tão ou
mais difícil do que viver sozinho.
escrever é se afogar em
fragmentos.
o som de teclas de
computador sendo pressionadas pode ser reconfortante.
quanto estímulo é o
bastante?
há algumas semanas, uma
mulher foi encontrada morta num assento na última fila de
um
cinema, os pulsos, a jugular e a femoral cortadas. no assento ao lado, uma
faca
e um saco de pipocas (cheio).
sempre que alguém se mata
eu morro e renasço um pouco, menos um pedaço.
o mesmo poema escrito à
mão ou no computador não é o mesmo poema (nada revela
angústia
como caligrafia).
a noite passada, dormi
quatro horas.
todo dia sinto medo de até
agora não ter escrito nada que preste.
todo dia pego o celular
pra ver que horas são e esqueço de que horas são.
um amigo me garante que
ninguém lê poesia. ponto. (o que isso diz sobre quem
escreve?).
não sei se o amor nos
resolve, como diz um poema, mas é um consolo sem tamanho.
um dos meus ouvidos agora
vive entupindo.
PRECISO dos outros.
palavras são cacos de
vidro.
todo poema é um fracasso,
segundo eliot (azar do sucesso, comumente medido em
vagas
de garagem).
a gente é a soma dos
danos que causa e tudo que perde.
a combinação fios de
cabelo + pelos do corpo + ranho é letal pra qualquer ralo.
palavras são palitos de
fósforo.
tenho mania de arrancar
fios da barba ou pelos da orelha quando muito ansioso (o que é
quase
sempre).
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