a penúltima vez que vi meu avô
foi num fim de ano na praia.
ele fez uma brincadeirinha que me
deixou puto da cara.
passei o resto do tempo
emburrado,
como se a vida não pudesse acabar
a qualquer momento.
no dia de ir embora nem me
despedi.
a última vez que vi meu avô foi no
velório, o rosto branco como cera.
“dá tchau pro opa, filho,” disse
o meu pai, a voz rouca e doída
mas sem escorrer uma lágrima.
minha mãe conta que a primeira
vez que ele conseguiu chorar
a morte do pai foi mais de um ano
depois.
mas essa é uma outra história.
nunca esqueço da testa fria do
meu avô contra os lábios.
o que não lembro por mais força
que faça
é da brincadeirinha que ele fez
naquele fim de ano na praia
e que levei tão a sério.
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