quando era novo, a empresa
em que o pai trabalhava faliu.
o irmão e ele mudaram de
colégio e passaram a andar de ônibus.
a família se mudou prum
apartamento de um tio,
não de favor, mas pagando
bem menos que o valor do aluguel.
a mãe não fazia mais
supermercado sem calculadora
e não cansava de lembra-lo
a cada item da lista
pra não sair “pegando nada
antes de olhar os anúncios de promoção.”
no quarto que o irmão e ele
dividiam ficava uma estante improvisada
que o pai tinha mandado fazer
de compensado
e que os dois pichavam com
canetas coloridas pra tentar tornar única.
numa outra estante doada,
de frente pras camas, ficava uma tv de tubo
12” polegadas na qual aos domingos
de manhã
cedinho ele assistia pesque e cia.
e siga bem caminhoneiro.
foi um tempo difícil,
principalmente pros pais, mas no fundo
eles sabiam que continuavam
tendo muito.
amor e carinho, um ao
outro, mas também muita coisa mesmo.
sabiam que boa parte das
pessoas tinha bem menos
e cada vez mais ele se
perguntava o que significava ter muito
quando tanta gente tinha
tão pouco.
sabiam que ter pouco era
dormir nas ruas de porto alegre
em pleno inverno. que ter
pouco
era procurar comida nos
sacos de lixo de prédios
como o deles. que ter
pouco era viver à beira do dilúvio pedindo
esmola na sinaleira.
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