depois do almoço
paro em frente à porta de vidro da varanda
e tomo café vendo
a chuva cair.
hoje de manhã
coloquei dois pratos na mesa do café
como se você
estivesse aqui.
faz uns três dias
que não para de chover.
essa noite deixei
o computador ligado pra fugir do silêncio.
essa noite deitei
no canto virado
pra parede como se
não estivesse sozinho.
essa noite passei
horas em claro.
essa noite sonhei
com pó e baratas e pessoas
invadindo o
apartamento.
o café ficou
morno, amargo
como o barulho da chuva
na janela.
como as árvores
sem folha.
como sair na rua
todo dia e ver que pra uns terem tanto, outros
têm que ter tão
pouco.