lamento
("Lament", poema traduzido de Rilke)
tudo é distantee há muito ficou para trás.penso que a estrelabrilhando no altojá está morta faz um milhão de anos.acho que eram lágrimasno carro que ouvi passare algo terrível foi dito.um relógio parou de contaro tempodo outro lado da rua...quando foi que havia começado?gostaria de pisar fora do meu coraçãoe seguir caminhando por entre o céu.gostaria de rezar.de todas as estrelas que pereceramhá tanto tempo atrás,uma ainda existe.eu acho que sei qual delas -qual delas, ao final do seu feixe de luz,permanececomo uma cidade toda branca...
"Não, não devia pedir mais vida. Por enquanto era perigoso. Ajoelhou-se trêmula junto da cama pois era assim que se rezava e disse baixo, severo, triste, gaguejando sua prece com um pouco de pudor: alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar não é morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que eu me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma tambem incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém.
ResponderExcluirNão fui eu, mas ela quem disse. Clarice. Porque eu também, queria saber rezar.