A Doce Terça-Feira
O que há de aqui restarQuando aqui não forMais esse lugarQuando a passagem dos anos passarE o tempo esconderO que censo nenhum recordaQue aqui, um dia, houve uma livrariaQue a ausência poupou da misériaE a alma não viu a corDescascar das paredes feito memóriaSeca como as pétalas da rosa[morta em um vaso sem água no último andar]As prateleiras atiradas ao chão, inúteis,Livros e álbuns cobertos de destroçosDe cimento; o que há de restarQuando aqui passar o ventoE outras pessoas a passear, sem nota,Sem a menor pista do que se passava,Um passado morto sem água, seco como a rosaSem teto e sem moradaEntão mais nada há de restarQue não o isolado sono da pedraDestituída de toda ideia, vaziaComo a noite do oceano ficariaSem a lira do ronco da baleia
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