E em todas as outras Tardes
Eu sento em frente ao monitor
na cadeira de couro do meu avô
na cadeira de couro do meu avô
enquanto o Tempo Passa
no corpo do vento, nos ares
que rastejam entre tábuas,
dobradiças e fechaduras.
Olho pela janela e não vejo o Farol.
Vejo um espaço limpo
de prédio desmoronado.
Ouço disparos de trovões
e avisto raios, relâmpagos alvoroçados
entre cabos elétricos. Chuva despenca
numa vazante sem fim.
Penso em J.D. Salinger isolado
batendo teclas de uma velha máquina
manual de escrever. Vejo o trânsito
e me pergunto
se não é esse o real abandono.
Me sinto um analista de letras,
um psicanalista de formas, engenheiro
abstrato da molduras das palavras. Sério,
sento em frente ao monitor e bato
teclas curtas e macias
que fariam Salinger chorar desesperado
de vergonha da preguiça contemporânea.
A chuva deixa o céu quase como um pano
branco estendido sobre os telhados
e eu busco abrigo em uma alcova de livros
de nomes estrangeiros.
Kerouac, Salinger, Lawrence—
em um dia assim, Eliot,
a gente aqui faz o que pode.
Nenhum comentário:
Postar um comentário