Nascido de cavalos lentos
‘‘on the third day
of yr death. the water in my urine turn to blood
i cover the waterfront of the mirror w/a blue cloth where yr face stood’’
of yr death. the water in my urine turn to blood
i cover the waterfront of the mirror w/a blue cloth where yr face stood’’
-Kamau Brathwaite
no primeiro dia da tua morte
me sentei sobre a pedra fria do lado de fora
e tentei lembrar se ainda sabia chorar. as lágrimas
romperam as pálpebras secas de anos
romperam as pálpebras secas de anos
enquanto a retina clara mirava as flores amarelas
da acácia dourada. ventava
e o vento sacudia galhos e folhas das árvores.
um palito de dentes rolava de um canto ao outro
da boca, um foco, um ponto de chegada
pro desejo do pranto abafado. rugia
e o ronco mecânico do gerador a diesel
sacudia as paredes de compensado da garagem.
segurava as Luzes de Agosto entre mãos de Outubro
num tempo de Julho, geada, frio de montanha. o sol
quase não saia. chovia
e a chuva desfazia o trabalho de meses.
o homem contra a água sem chance
contra o fogo, a explosão do carro na colisão de frente
nossos corpos de carbono. a lágrima
enfim teve curso. a cabeça
enfim teve curso. a cabeça
se deixou deitar entra as mãos sujas de lama, a boca
deixou que a saliva espessa escorresse
em intervalos de soluço. os olhos
se apertaram até que as córneas doessem.
nesse instante vi o rosto pálido do meu avô no ataúde.
quedo, frágil, eterno e remanso como as margens de um rio. ao lado
meu pai mudo, a mão grossa pousada em meu ombro. o vidro
refletindo o luto da terra roxa.
refletindo o luto da terra roxa.
no segundo dia da tua morte
toquei a vida adiante como um homem deve. sequei lágrimas,
traguei catarro e escarrei contra o chão de argila
a mesma marca molhada da chuva. traguei catarro e escarrei contra o chão de argila
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