Os fortes e os macios
dez e pouco da noite
um dia de semana
deixo o prédio a pé.
cuidado, é perigoso, ela diz,
não te preocupas, não
é longe, conheço bem
as ruas.
a noite tão clara
de tantas luzes acesas.
de tantas luzes acesas.
na vinda, cruzara a
obra na esquina, já
tarde,
achara estranho,
os homens em torno,
o guindaste inda morno
mas desligado.
a essa hora
já deviam estar em casa.
agora a obra deserta,
mas do outro lado da rua,
na outra esquina,
escorados na mureta,
os homens sem camisa
ainda vestem calças
de uniforme azul.
uma garrafa de coca
pela metade, dois dos
mais jovens deitados,
falando, o mais velho
dormindo sentado,
o capacete baixo,
o cheiro de cigarro,
o guindaste frio.
hoje nem voltarão pra casa.
a obra recomeça amanhã tão cedo
que nem vale a pena, a casa na vila
é longe demais.
vida de cão
que nem todo mundo aguenta.
no dobrar da esquina,
logo ao lado, no seguir
da rua, o instituto de cultura
onde pessoas no portão
discutem cinema
e as belas artes
com as barrigas cheias
como a minha.
vida mansa
de que ainda assim reclama.
Nenhum comentário:
Postar um comentário