Turno da Noite
enquanto eu me aproximo do táxi
ele desliga a chave. eu abro porta,
boa noite, eu digo, ele grunhe alguma
coisa de volta, incompreensível, debruçado
sobre o volante. ele acende o motor,
pisa fundo no pedal, arranca sem
sair do lugar. o carro morre, ele
resmunga e cospe pela janela. eu me
pergunto que droga ele usa. ele liga
o carro novamente, segura, engata
primeira, puxa um catarro preso.
cocaína, eu penso. ele parte, o carro
sobe a lomba acelerando, dobra à
direita sem parar, veloz, ele nem olha.
ele quase deita sobre o painel, coça
a perna esquerda, pisca os olhos, apanha
o rádio e produz um som inaudível ao
qual, claro, ninguém responde nada.
parece bêbado, eu penso. na cristovão
colombo vazia ele troca de pista
e voa na contramão, atravessa o canteiro
e dobra à esquerda na única rua
proibida, a minha, e acelera, pisa,
retoma a velocidade reduzida na
curva. pode parar na esquina, eu digo,
e pode cobrar dez, eu digo, dando
a nota e já abrindo a porta, mesmo
que tenha dado sete e pouco. boa noite,
eu digo, ele murmura algo ininteligível
e puxa um ranho, esfrega os olhos
com os dedos, a testa com a palma da
mão. são três horas da manhã de quarta.
eu bato a porta e ponho o pé na rua,
ele arranca, faz a curva já quase a oitenta
por hora, e por pouco não me atropela.
a coisa boa, eu penso,
é que nunca cheguei em casa tão rápido.
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