O Sono, A Morte de Vidal, O Mestre do Silêncio.
mas reflito
se seria pior morrer de tifo
me dá aqui um beijo.
pra leitura não basta disciplina
é preciso obsessão.
o hábito preenche um espaço
interminável
sem nunca tocar as paredes.
pro hábito não basta rotina
é preciso transtorno
sem jamais se entregar à mesmice.
o braço busca o corpo calmo, o lábio
sussura 'acorda' na orelha, o rosto
vira de olhos fechados e apenas responde
que amanhã não tem aula,
nem lembra
que faz muito tempo que não tem aula.
escrever é fazer escolhas o tempo todo,
disse Fonseca, que leu em Flaubert, que deve
ter ouvido em algum outro lugar. Não me recordo
do que disse Bábel
[algo sobre o direito de escrever mal?
[algo sobre o direito de escrever mal?
mas reflito
se seria pior morrer de tifo
ou fuzilado.
pior mesmo seria ter o último manuscrito
destruído, a obra prima máxima aniquilada.
Flaubert também disse
[ou foi Valery?
que um romance não termina,
assim como um poema
[ou foi Valery?
que um romance não termina,
assim como um poema
nunca acaba. O escritor em algum ponto
precisa aceitar que deve abandoná-lo.
isso também é fazer escolha.
Vidal disse que era uma crosta de gelo que, caso fosse
quebrada, revelaria apenas água fria.
o Jornal Nacional disse hoje à noite
que ele morreu ontem de pneumonia.
que ele morreu ontem de pneumonia.
quanto tempo eu durmi? tua voz questiona,
agora é uma hora da manhã, respondo.
mentira, tua voz retruca, enquanto
os dedos esfregam os olhos.
desculpa, tua voz exclama.
não importa, replico.me dá aqui um beijo.
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