Estranheza
eu mesmo não acredito que estou aqui.é impressionante o quanto o sonho e a realidade têm em comum:às vezes a gente sonha uma coisa absurda, num lugar absurdo,cercado por gente absurda, fazendo a mais absurda das coisasda forma mais absurda possível; mas a gente aceita, e fala para si mesmoque foi apenas um sonho, e que sonhos são isso, absurdos.mas na realidade a gente pode às vezes se encontrar na alemanhae três ou quatro dias depois, passados quase sem perceber, podemos pairar no ar,sobrevoando cuiabá, pousando no interior do mato grosso, revendo o pai.alguns dias depois um primo se casa, o tempo passa, e o avião sobrevoao oceano atlântico, de volta, e pousa na pista do aeroporto de frankfurt.a gente come uma salada murcha no balcão do aeroporto e procura um café fortepara tentar dar algum sentido às coisas; não têm.a gente embarca em outro avião e segue, as horas passando, a gente se perguntandoentre empurrões no corredor se tudo é ou não um sonho; a gente sabe que dalí uns meses estará em casa,ou em lugares que nunca imaginamos estar, revendo pessoas que imaginamos que nunca mais veríamos,falando de coisas que a gente pensou que nunca mais falaria.enquanto os dias não chegam a gente pensa que nunca chegarão,quando eles vêm a gente quase não percebe que chegarame quando se vão a gente mal pode acreditar que já passaram,que podem mesmo ter existido, sido reais.a gente se encontra em mesas de bares e diz um para o outro que não crê,que não crê que possa ser; mas acredite, que como um sonho que se aceita,é preciso também que se admita, na vida, mesmo aquilo que não se acredita.
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