se lembra?
Uma parte da gente toda é poeta.Há fases, minutos, dias ou anosem que a gente se recolhe.Há uma parte da gente que morrecalada, uma parte alegreque esquece que existe.Ainda assim há bons-diasaos motoristas de ônibus,respostas às caixas de supermercados,risadas fingidas e bem-educadasno balcão em troca de café.Mas o resto não passa de um silêncio taciturnoou de um diálogo passado em um sonho,um encontro quebrado pelo toque do despertador.Mas essa parte sozinha,
se fosse perpétua,não passaria de um triste destino.Mas a gente sabe que passa, que nadaé para sempre—e que um dia tudo acaba,e muda.E a gente encontra de novoconforto em abraços, em braços morenosdesconhecidos
e consolação
no peso delicado de um corpo
ou num sopro sussurrado na orelha.
A gente redescobre uma fé no invisívele o gosto de uma tola conversasobre garrafas de cervejaou o tamanho da lua cheia.A gente já quase não lembrado tempo em que dormia sozinhoe não sente falta—do tempo em que sentir faltaera a única presença concreta.Mas não esqueçaque essa fase também passa, como passa o outonoporque nada permanece:o que ficaé essa certeza estranhade que a gente não é coisa definidaquiçá definitiva—no tempo de uma vida apenas.
a gente é todas as vidas
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