Fragmento de uma Carta
do inglês, ' Fragment of a Letter '
A noite toda a chuva açoitava as janelas.Eu não conseguia dormir.Então acendi a luze escrevi uma carta.Se o amor pudesse voar,como claramente não pode,e se não ficasse sempre tão perto do chão,seria encantador ser envolvidona sua brisa.Mas como abelhas enfurecidasbeijos ciumentos se aglomeram sobrea doçura do corpo femininoe uma mão impaciente agarratudo aquilo que alcança,e o desejo não desfalece.Mesmo a morte pode existir sem terrorno instante da exultação.Mas quem algum dia calculouquanto amor acompanhaum par de braços abertos!Cartas para mulhereseu envio sempre por pombo correio.Minha consciência é limpa.Eu jamais as confiei a gaviõesou açores.Sob a minha caneta jã não dançam mais versose como uma lágrima no canto de um olhoa palavra se segura.E a minha vida inteira, ao seu final,agora é apenas uma rápida jornada em um trem:Eu permaneço ao lado da janela do vagãoe dia após diareversamente acelera até ontempara juntar-se às névoas escuras da dor.Em tempos eu desamparadamente apanhoo freio de emergência.Talvez eu hei de ver mais uma vezo sorriso de uma mulher,capturado como uma flor arrancadanos cílios dos olhos dela.Talvez me seja ainda permitidoenviar àqueles olhos ao menos um beijoantes que eu me perca deles na escuridão.Talvez eu hei de até ver mais uma vezum tornozelo esbeltoesculpido como uma jóiade branda ternura,para que eu possa uma vez maisquase sufocar de saudade.Quanta coisa existe que um homem deve deixar para trásenquanto o trem inexoravelmente se aproximada estação de Lethecom suas plantações de asphodelus cintilantesem cujos perfumes tudo pode ser esquecido.Incluindo o amor humano.Essa é a última parada:o trem não segue adiante.
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