terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Eu & a calçada






A impressão que tivera ao longo da noite toda de que a vida
poderia ser até certa medida controlável se desfez por completo
no instante em que a roda dianteira esquerda do carro beijou
violentamente o cordão da calçada. Beijou e recuou. Tornou
rápida ao meio da pista, recuperando-se. Ufa. Não foi o primeiro
beijo que presenciei. E nem haverá de ter sido o último.
Coisa mais frágil a vida que, ainda que se tenha as mãos firmes
ao volante, toma de chofre decisões à parte que não cabem aos
homens. Coisa mais frágil a vida. O que decide quem vai e
quem fica? O carro segue na madrugada alta cortando as ruas
da cidade ainda escura, ainda não de todo amanhecida. O ocorrido
se diluí aos poucos na embriaguez das risadas. Não foi nada.
Sem muito mais a fazer a respeito, digo para mim mesmo
que não foi nada.

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