quinta-feira, 30 de outubro de 2014

recomeço




era um mundo difícil de abraçar.
de querer dividir. um mundo
em que por muito tempo todo dia
era cinza. um mundo com medo
de demonstrar fraqueza. receio.
insegurança. era um mundo cansado

de si mesmo. um mundo de retalhos
(e silêncios). um mundo com
a pele de aço e os ossos de vidro
(de portas fechadas e caroços
presos na garganta). um mundo
à espera de outro mundo



pra não viver mais no seu.



sexta-feira, 24 de outubro de 2014

a padaria da esquina




eles chegam de manhã cedo
mesmo no inverno

só sentam do lado de fora
tomam café e não comem
quase não falam

(os olhos opacos em pontos
fixos no espaço vazio)

fumam cigarros
de filtro amarelo e esperam



quarta-feira, 22 de outubro de 2014

num saguão de aeroporto




mais uma vez a gente se despede
num saguão de aeroporto
(mais uma vez o tempo se fez de morto
e quando abrimos os olhos

era tarde) 

mais uma vez só resta deitar na cama 
e ver as sombras no teto 
falar com as paredes e esperar 

pela neve


terça-feira, 14 de outubro de 2014

quando as chamas chegam perto demais (2)





presos entre a morte
e uma angústia invisível.
as chamas e a janela
do arranha-céu. 
o medo de cair sempre igual.

não é o gosto pela queda
que leva a pular.
é o medo das chamas.

quando as chamas chegam
perto demais, cair
é menos doloroso.
não é o desejo de cair.
é o calor do fogo.

e ninguém na calçada
olhando pra cima
e gritando não pula entende
sem ter sentido
as chamas na pele.



quarta-feira, 8 de outubro de 2014

quando as chamas chegam perto demais





presos entre a morte e uma angústia invisível.

as chamas e a janela do arranha-céu. o medo
de cair sempre igual. não é o gosto pela
queda que leva a pular. é o medo das chamas.
quando as chamas chegam perto demais, cair
é menos doloroso. não é o desejo de cair.
é o medo do fogo. e ninguém na calçada
olhando pra cima e gritando não pula entende

sem ter sentido as chamas na pele.