quarta-feira, 19 de outubro de 2016

pra ter certeza



à noite em silêncio
dá pra ouvir o mijo do vizinho batendo na água da patente.
a descarga correndo.

a gente não é sozinho.
paredes dividem mas não isolam. é um consolo.

num banheiro
alguém caga no escuro e toma um copo de vinho
vendo a chuva cair.

anestésicos.
o problema é que a gente sente cada vez menos.

se poemas não mudam nada
nem salvam vidas
joguei fora boa parte da minha. agora só jogando o resto

pra ter certeza.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

um começo




“uma esmola pra comprar comida,”
diz um cara na porta do trem.

na janela à direita um anúncio:
“emprego para todos!”
na janela à esquerda outro:
“próxima parada: carreira!”

“o fim do capitalismo não
é a solução para tudo,”
diz um cartaz num poste de luz.

mas é um começo.