segunda-feira, 23 de agosto de 2010

adeus






verdade,
talvez eu nunca mais te veja
e sim,
esse pensamento só
já é tristeza de vida inteira

mas não há tempo pra lamento
enquanto a vida segue
a passo lento disfarçado
que passa fácil
por entre dias tão difíceis

em que tanto sonhei
que quando tive a boca de carne
beijei
mas quis também tocar com dedos
a certeza dos teus lábios
que se foram

em duas latas de cerveja de manhã.

sábado, 21 de agosto de 2010

hinged to forgetfulness/like a door







ela se despede
e me beija
nesse dia de sol qualquer
enquanto eu digo
"até sabe-se lá quando..."
e miro a porta que fecha
lenta
e a leva embora -

e eu saio à rua
com um sabor amargo de domingo
em que a ví talvez
pela última vez
e tudo é ainda mais triste
num dia quente de verão
em que a vida
é uma puta de olhos verdes
que se ama sem razão.
que eu hoje não consigo esquecer





quando
abro os olhos
e vejo ela deitada
do lado sei
que ontem minhas
mãos correram
mesmo pelo
corpo dela
e pelo rosto
tirando o cabelo
da frente dos olhos

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

às 22h00 de qualquer dia






espero pelo caminhão
sentindo contra o rosto
o vento
e a falta total de vontade
de trabalhar.

mas eu assim como tantos
outros
preciso de dinheiro
mesmo que tão pouco.

no trânsito vejo um carro
funerário passando
na mão contrária
com um caixão com o corpo de alguém
morto no porta-malas.

e eu me pergunto
se tudo já não morreu
e se isso tudo não passa
de uma grande farsa.

mas eu ainda posso
à noite deitado no escuro
pensar nela por alguns minutos
antes de dormir
esperando que algo aconteça
antes que o despertador amanheça.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Nunca escrevo aqui nada que não seja meu. Ou quase nunca. Hoje é um dia diferente. Uma noite diferente na verdade. Não posso deixar que certas linhas passem em branco. Bukowski, claro. O gênio por trás do bêbado. O poeta verdadeiro, coisa cada vez mais rara quando não absolutamente extinta.


" The gods were good to me. They kept me under. They made me live the life. It was very difficult for me to walk out of a slaughterhouse or a factory and come home to write a poem I didn't quite mean. And many people write poems they don't quite mean. I do too, sometimes. The hard life created the hard line and by hard line I mean the true line devoid of ornament.

Those who are best at poetry are those who have to write it and will continue to write it no matter the result. For, if they don't, something else will happen: murder, suicide, madness, god knows what. The act of writing the Word down is the act of miracle, the saving grace, the luck, the music, the going-on. It clears the space, it defines the crap, it saves your ass and some other people's asses along with it. If fame somehow comes through all this, you must ignore it, you must continue to write as if the next line were your first line.

And although we must ignore praise, there are times when we might allow ourselves to feel good for just a bit. I received a letter from a prisoner in a jail in Australia who worte me: your books are the only books that pass from cell to cell.

But, I've talked enough about writing poetry here; there is still time tonight to write some. A few beers, a cigar, classical music on the radio. See you later."



- Charles Bukowski

terça-feira, 17 de agosto de 2010

não posso tarde demais





caminho as ruas
movendo o pescoço
de cabeça baixa
sonhando que te beijo
devagar
e passo a ponta
dos dedos
pelo teu rosto
enquanto espero o sinal
ficar verde
e atravesso a rua
até o supermercado
- não posso, dessa vez
não posso
deixar que escape,
não posso deixar
que passe
sem saber o que seria
ou poderia ter sido
se tivesse tentado
- já estou acordado
mas ainda é preciso
despertar pra ti.

domingo, 15 de agosto de 2010

até logo





é como se eu já
pudesse sentir,
de forma antecipada,
a falta

das luzes dos postes,
das luzes dos carros,
das luzes dos prédios.

do som que vem
da rua
e até da gente,
de toda essa gente imersa
nas mesmas 8 horas
por dia

nas fábricas,
nas lojas de esquina,
nos postos de gasolina.

sábado, 14 de agosto de 2010

ausência do herói





eu sento na sacada
lendo contos
do melhor escritor
que já existiu
enquanto o céu
que era aberto
                 [fecha

e as nuvens surgem
e se reunem negras
deixando que a chuva
                       [caia

fria, as gotas carregadas
pelo vento e eu
simplesmente
não entendo.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

pouco antes de dormir






um poema
é um retrato
de um instante
que tem começo
e fim

pois nada dura
pra sempre
nem mesmo versos
de eternidade.
em realidade...





datilografando palavras
ao passar dos pássaros,
o dia que vira tarde
que vira-se-tornará
noite.

copiando poemas ao vento falso
do ventilador;
falso-bem-vindo pois apesar de falso
é extremamente refrescante tal qual
o engano.

o que será do carnaval?
será festa ou solidão,
serão pessoas
ou poemas serão?
será alto estrondo
ou eterno silêncio?

na companhia de velhos poemas
busco em palavras a memória,
a foto que não tirei
e um coração que já outrora
batia descompassado,
descontínuo-inesgotável.

velhos poemas de uma vida
como as folhas ao vento
de uma tarde
cuja suave vontade invade,
sussurrando o que há de
com calma tornar-se,
ò mágoa lembrança,
mera tranquilidade.


(Berlim, 2008)
amor-resposta, alguém me disse certa vez.





o fundo do poço
é a certeza
de ter sentido
a coisa mais bela
que há pra sentir
e envolver-se de novo
na sensação da lembrança
de um momento
inesquecível.
tudo que importa






saudade
de um fim
de semana inteiro,

de uma noite
assim, sozinho
em silêncio,

o mundo lá fora
e eu aqui dentro,

não temos nada
senão tempo.
em um momento qualquer






no final/
da tarde de hoje/
fiquei por um tempo
deitado no chão,
olhar fixo,
perdido,
mirando reto/
o teto,
cinza,
áspero e esburacado;
mas não era
o teto o que eu via
mas sim teu rosto/
lá colado,
liso, cabelo preto/
e olhos escuros,
sorrindo...
eu sonhava acordado/
num final de tarde
qualquer/
pensando em o que
dizer/
e pensando
se deveria te escrever/
se deveria despertar
o que não consigo dormir.


(poema antigo)
hoje compreendo






o gosto
que tinha
o teu pescoço,
tua testa,
teu rosto;
tua boca,
tua orelha,
teu ombro.
o cheiro do
teu cabelo
e o fundo
do teu olho;
o te sentir
apertada
nos meus braços.
a tua pele
contra a minha
mão,
os teus dedos
entre os meus;
o silêncio,
o eterno silêncio
que entre nós
existia e que,
enfim um dia,
fez um de nós
desistir.


(poema antigo)
Guerra o tempo todo





agradeci o dia
que amanheceu coberto
de nuvens de chuva carregadas
que o vento trouxe do deserto


o gosto amargo do café
me deu saudade do tabaco
e de versos simples sem forma,
sem rima e sem norma
no aguardo por páginas novas


páginas velhas,
antigas páginas tão conhecidas, escondidas
na parte de baixo da estante,
palavras que falam o que eu tento dizer;
tão simples sem norma,
sem rima e sem forma,
palavras que eu quero esquecer.


(poema antigo)

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

como dizia um certo velho






a crítica,
os artistas e os intelectuais
discutindo
nos meios acadêmicos e culturais
a importância da poesia
e o lugar do poeta
na sociedade moderna!

balela.

a poesia é muito mais simples
do que tudo isso:

beber à noite
ainda sentindo tristeza
mas dar risada
e já não pensar em morrer.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

se tiver que ser






em busca
do poema perfeito
me perco
em versos incertos
de sentido confuso
nos quais não sei
quem sou.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Terça-feira






andou na chuva
na manhã acinzentada
pensando em amor
e não em trabalho
enquanto no ar

os aviões cegos cortavam
                             [o céu.

em um dia em que o dia
não mostrou se nasceu.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

No tempo em que esperou o teu amor






olhou para o céu e viu as estrelas que nele brilhavam, luzes 
que invadiam a noite quase despercebidas, encobertas 
pela claridade da lua.

lembrou-se imediatamente de algo que alguém um dia dissera:
que quando olhamos pro céu
uma parte das estrelas que vemos já morreu há muito tempo.

a distância é tão grande
que quando a luz que elas emitem chega até aqui
elas já nem mesmo existem.

domingo, 8 de agosto de 2010

Em um quarto estranho, é preciso se esvaziar para poder dormir.






quantas vezes
já deitei em noite
de chuva
em baixo de teto
estranho

pensando em casa.