segunda-feira, 10 de junho de 2019

nem fechadas


conheço bem os túmulos
a fúria dos humilhados
você morreu em 17 de agosto
um rosto inchado
um fígado falido e enterrado anônimo
quantos dias alguém chorou de manhã cedo
a chuva escorrendo pelas janelas do ônibus
não, nada está perdido
nem os lábios são nossos
uma língua feita de sonhos e farrapos
tudo é uma questão de amor
e o que a gente carrega nos ossos
ratos são sonhos de um mundo sem dono
a lua tem dentes de mármore
e as flores são rios de sangue
quem sabe um dia a gente encontre
tudo que nos foge
não há tempo pra tristeza
nossas asas não estão prontas
nem fechadas