quinta-feira, 21 de maio de 2015

um minuto a mais




de quantas vozes e disfarces
é feita uma pessoa. de quantos erros irreparáveis
e arrependimentos que não matam, mas deixam

feridas que não fecham.
de quantos choros abafados pelo barulho do chuveiro.
de quantos reparos e remendos e partes que quebram

e não têm conserto.
de quantos cantos escuros e quartos trancados.
de quantos sonhos consumidos como

cigarros. de quantos palmos de tristeza
e quilos de solidão. de quanta dor engolida por

um minuto a mais de amor.


sábado, 16 de maio de 2015

no oceano de vozes




a cada dia que passa mais gente fala sozinha.
a cada dia que passa mais me dou conta
de que o abismo que nos separa tem a largura
de um passo. e daí se os lábios não se mexem
e os olhos disfarçam, fingindo ver aquilo 
em que pousam? e daí se as palavras que chegam
à boca se afogam na saliva, se suicidando pouco
antes de nascer? a cada dia que passa 
mais gente fala sozinha. a cada dia que passa 
mais me dou conta de que a solidão é 
a mesma: viver ilhado no oceano de vozes 
que banha as próprias cabeças.


segunda-feira, 4 de maio de 2015

reflexo no espelho




o tempo é um arado
deixando rastros pelo rosto.
não lembro da última vez
que passei um dia inteiro
sem pensar na morte.
sem olhar no espelho
e dizer pra mim mesmo:
um dia a vida acaba.
um dia esse eu repleto
de laços, silêncios
e problemas insolúveis
se dissolve. se dissipa.
some do mapa sem deixar
rastro nenhum.