quinta-feira, 29 de julho de 2010

Medical Appointment





I miss her already.

her beautifull black eyes

while she talks about
blood vessels
heart conditions
muscles and
arthritis.

and all I can see is
her beautifull mouth
moving
in slow motion

like listening to Rachmaninoff
during morning's dawn.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

poesy





maybe I'm not
as happy
as one can be

but every time
I read a poem
I am alive
and I am free.
desculpas que eu não pedi





o sonho traz à tona
a culpa
das escolhas passadas
que já não posso desfazer

a dor no sonho é real
e eu me arrependo
de coisas que falei
num tempo
que pensei saber o que era certo
quando não sabia de coisa alguma

meu inconsciente
não me perdoa
e me atormenta à noite
como a sombra de um sofrimento
que eu talvez tenha imposto
pra sempre à alguém que eu amo

e não sei se restam segundos
no presente
capazes de alterar
o futuro.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

another day at the office


something inside me
roars loud and deep
like an engine
or a dying animal's
scream

while some guy lives
in a shit-hole
with nothing but a videogame
and a cheap pack
of cigarettes

and the cockroaches
are building an empire
underneath his fridge

that I have to move
down the stairs.

presa ao esquecimento como uma porta
(poema traduzido)





presa ao esquecimento
como uma porta
à dobradiça,
devagar ela se fecha e
some,
e ela era a mulher que eu amava,
mas por muitas vezes ela dormiu
sob meus carinhos como um cervo mecânico
enquanto eu sofria no silêncio de metal
dos seus sonhos.




-Richard Brautigan

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Tudo aquilo que se perdeu






solte ao vento
e deixe que voe
por um tempo

que contorne
o mundo inteiro
e caso um dia
retorne

então que seja
pro resto da vida.

terça-feira, 20 de julho de 2010

a parte diferente do dia






no despertar da manhã
a vida toma outra forma -
de uma realidade estranha
que ainda caminha à sombra do sonho

a consciência muitas vezes
nem sequer lembra
das imagens criadas no inconsciente -
mas a parte mais profunda da mente
sabe que o que passou existiu
mesmo que seja
obrigada a reprimir esse estado
pra seguir a rotina do restar do dia

dar vazão
a esse estado perturbador do recém desperto
é a inspiração máxima da percepção
da parte mais interior da vida -
a luta eterna do homem
de compreender o que é real

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Impressões de pedra






de quanto concreto é feita
a única estrada que percorre inteira
a distância entre as duas cidades
depois de mais de 10h de viagem?

o asfalto aponta até o fim do horizonte,
até o ponto mais longe que a vista alcança
e numa repetição incansável vai aos poucos dando adeus,
ficando pra trás, correndo embaixo das rodas.

dos dois lados tudo é campo, tudo é grama
e as árvores se estendem por todo o caminho.
não há gente alguma pra ser vista
mas diferentes espécies de carcaças de animais
mortos no acostamento
com órgãos e sangue espalhados pelo chão

refletidos contra o sol,
contra a noite
e contra as luzes dos carros.

o medo que precede a mudança
e a ansiosa expectativa da chegada
dá sempre vez a tristeza da partida
e a impressão de que o tempo passando
é sempre algo indo embora

se despedindo
como o asfalto da estrada.
All of us have a place in history. Mine is clouds






em uma tarde qualquer
de uma segunda-feira tão comum
alguém me perguntou
se eu já havia lido Richard Brautigan;
respondi que não
e que na verdade nunca nem havia
ouvido falar no nome.

mas agora eu sei
que viveu quase sempre tomado
de desespero e desilusão,
que foi alcoólatra boa parte da vida
e que aos 49 anos achou que bastava -
encerrou a própria vida
com um tiro de magnum 44 direto na cabeça.

por algum motivo estranho
sinto vontade de me desculpar
porque depois de muito tempo
eu hoje lí palavras novas
que me trouxeram outra vez a certeza
de que pra cada milhão de versos fingidos
existirá sempre ao menos um
que me faça acreditar.

terça-feira, 13 de julho de 2010

I don't wanna hear about it


"I've known her for ten years",
he tells me while we're in the truck
on our way to a job.

"she would actually be perfect for you"

and then he tells me how perfect she is
and how she has some money saved,
no, quite a bit actually,
and how she owns her own unit
down in Pyrmont, near the water,
no mortgage
and probably worth a million.

and he tells me how all that could be mine
and how good it would be,
how perfect.

I would be married and soon having children,
I would have money in the bank,
my own place,
maybe my own little business,
all settled.

"your life would be complete
and you would be able to say
- I made it."

and all the time I'm nodding
pretending that I'm hearing,
pretending that I care about all these things,

marriage
money
property
investments
business
future

pretending that all that bullshit
really means something to me
while deep down in my heart
I know

that it doesn't mean
a damned thing.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Can you still reach me?






I wander up and down the streets
like an automatic machine
one foot after the other
over and over again
and I don't even know where I'm going
although I convince myself
that I'm looking for a good cup of coffee to drink
but I do know
that I'm just trying to escape this thing
over and over again
but I can't
because it lives within me
in a dark spot between my heart
and my stomach
mixed with the air that I breathe in and out of my lungs


I'm just trying to escape this thing
that has been chasing me all my life
but that can't never get me
for it walks in a different pace
and I'm already gone
no trace
I'm already gone
I've left this body a long
time ago
I've left this world for good
to the other side of the shutted door



can you still reach me?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

até a Sibéria se preciso
(Ressurreição)





redenção é o abandono de uma vida toda
e não há renúncia que seja feita de certeza;
a maior convicção é a dúvida
e o medo da perda da aparência.

não há sono tranquilo, todo sono é perturbado;
laços antigos que se rompiam
foram refeitos no espaço
curto de tempo em que não pôde
desviar os olhos dos teus olhos.

o imprevisto do futuro é a insegurança do presente
e não há mudança que não pense em não mudar;

mas a lembrança de outra face
trouxe à memória outro destino
e o sofrimento infligido
desfez a alma de vacilo.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

cansado do teatro






subo outro ao palco da vida
representando sempre outro papel.

a fantasia cada dia
onde ninguém
e muito menos eu
tem coragem de ser algo
além do ser-social aceitável.

subo outro todo dia
à montagem humana de mentira
que também é montagem minha.

a saída consciente
é a crise que liberta
da aceitação que me aprisiona.

posso ser lá
mas não posso ser aqui.