quinta-feira, 29 de outubro de 2015

identidade




o que eu sou
eu não possuo.

o que eu sou
não me define.

o que eu sou
não tem centro.

o que eu sou
não transparece.

o que eu sou
é instável
construído
e ilusório.

o que eu sou
é um processo
infinito

de tornar-me.


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

receio (2)




receio de olhar no fundo dos olhos
do bêbado sentado no banco da frente.

receio de distinguir atrás das córneas,
pupilas, íris e cristalinas as mesmas
sombras. os mesmos hiatos e abismos.

a mesma ânsia por consolo e a mesma
urgência de escapar de si mesmo.

de se entregar a alguma coisa. vodca.
palavras. ou outra pessoa.


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

depois da briga




não há nada tão enganoso
quanto esse silêncio.
um de frente pro outro
comendo omelete e pão na mesa da cozinha.
os olhos se evitando.
as bocas se resumindo a mastigar.

não há nada tão doloroso
quanto esse silêncio.
esse silêncio amargo
de frases engolidas.
esse silêncio em que as bocas não falam
e as cabeças fervilham.

esse silêncio de aço
e de tapar os ouvidos.


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

receio




receio de olhar no fundo dos olhos
do bêbado sentado no banco da frente.

receio de distinguir atrás das córneas,
pupilas, íris e cristalinas as mesmas
sombras. os mesmos hiatos e abismos.

a mesma ânsia por consolo e a mesma
urgência de escapar de si mesmo.

de se entregar de corpo e alma a
alguma coisa. seja vodca. seja palavras
ou outra pessoa.


domingo, 4 de outubro de 2015

oito quilos




ele ficou insistindo pra ficar comigo e eu dizendo não.
ele dizia que não teria problema porque tinha camisinha.
ele dizia que eu poderia não fazer nada que ele faria tudo.

acordei com a dor dele me penetrando por trás.
no dia seguinte tinha sangue na minha calcinha.
me aconselharam a não abrir sindicância.

disseram que não havia provas.
disseram que eu estava bêbada.
disseram que não daria em nada.
disseram que eu estragaria a vida dele.

eu já tinha tido um quadro de depressão.
tive uma recaída.
perdi oito quilos.