terça-feira, 23 de maio de 2017

e sem fazer barulho



ser feliz é privilégio de poucos
ser feliz é privilégio de poucos
o luxo de um teto, de um estômago cheio
o luxo de alguém ao lado

deito a cabeça no travesseiro
e choro sem motivo
deito a cabeça no travesseiro
e choro sem motivo
e sem fazer barulho

um ensaio de perda
a lembrança de uma música
um ensaio de perda
a lembrança de uma música

uma lágrima escorre
em câmera lenta
e morre na fronha
olhos cheios de água, ruas cheias
de angústia


segunda-feira, 15 de maio de 2017

esse rosto perdido



de quem é esse rosto cansado
esse rosto envelhecido
de quem são essas faces cavadas
esses olhos inchados
olheiras da fundura de abismos
os olhos são abismos
poços sem fundo cheios de silêncios

de quem é esse rosto cansado
a pele colada no osso
de quem é esse rosto seco
o rosto é um deserto
uma máscara que esconde e revela
que pesa e alivia

de quem é esse rosto cansado
e os anos que carrega
os beijos. as lágrimas
pontas de dedos são facas
pegadas na areia

de quem é esse rosto cansado
esse rosto perdido


terça-feira, 2 de maio de 2017

erster mai



o despertador toca.
o sol machuca
pelas frestas da persiana.

tudo machuca
nada nos acorda.
nos acordava?

em frente à cômoda
fios de cabelo
misturados com poeira
e pele morta.

há trinta anos
kreuzberg explodia.

e agora?
falta ar
sobra miséria.