sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

e os poemas na parede




do cortador de unhas
pendurado na caneca aos copos  
pela metade e o spray
pra rinite, tudo no quarto
fala a mesma língua.
o vidro de moedas. o teto
branco. o lado vazio
do sofá-cama. a falta
que impregna a boca em noites
cheias de solidão.


sábado, 24 de janeiro de 2015

unsere liebe




que falta faz uma voz de carne e osso
que falta faz uma voz de carne e osso
na madruga fria em que os olhos
teimam em se abrir. na madrugada fria

em que a solidão teima em pôr os pés
no piso do quarto que imita madeira
depois, é difícil voltar a dormir. depois

o silêncio pesa demais, as paredes
se calam e a falta de uma voz (a falta
de uma voz de carne e osso)
pinga do teto e me afoga na cama


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

um mês pro prazo de entrega




miosan, café e água. biscoito
de aveia, vinho. iogurte com granola.
noites curtas, e cheias de buraco.
dias longos, com rostos bem parecidos.
olhos secos, horas contadas. a cada
segundo a morte é mais certa –  
todo resto é duvida. o consolo:
a cada segundo o amor é menos
abstrato, e mais antídoto.  


quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

você me vê como eu te vejo




você me vê como eu te vejo?

você ouve meus passos no carpete como
ouço os seus? você se habitua à minha
presença, que teima em virar paisagem,
e se espanta quando vê nela o reflexo
da sua, como eu? você se pergunta como
eu me pergunto se indago sobre você?
você nota a solidão nos meus olhos, nos
gestos, no rosto, como noto nos seus?
você me vê como eu te vejo, e procura

os cantos pra não ser visto?


domingo, 11 de janeiro de 2015

o mais perto de uma resposta




como sabe que é amor, você pergunta

e eu penso em coisas como banana picada
e torrada com requeijão de manhã
cedo. coisas como a gente dividindo a pia

pra cuspir a pasta de dente ou eu limpando
o teu vômito do volante do carro.

coisas como a gente se despedindo pela
milésima vez sem que fique mais
fácil ou eu vagando como um saco vazio

pelos saguões do aeroporto.


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

na mudez do quarto (2)




folheando dicionários atrás
da palavra que dê nome
ao que pinga do teto na mudez

do quarto. ao que escorre
pela parede branca entre
a foto de o'hara e os poemas

de berryman. ao que rasteja
pelo chão empoeirado
sem olhar pros móveis

e não é só solidão,
nem só amor nem só falta
nem só tristeza.

na mudez do quarto




folheando dicionários
atrás da palavra que dê nome
ao que pinga do teto

na mudez do quarto.
ao que escorre pela parede
branca entre a foto
de o'hara e os poemas

de berryman, rasteja 
pelo chão empoeirado sem 
olhar pros móveis

e não é só solidão,
nem só amor nem só falta
nem só tristeza.