sábado, 31 de agosto de 2013

deixa


sai

e me deixa pensar que tudo
não passa de um sonho.

deixa o telefone tocar até perder a voz
e a água na chaleira ferver
até secar.

sai

e me deixa acreditar que nada muda
pra sempre, sem volta.

que nunca ninguém amou
por contrato
ou sofreu por decreto.

que nunca ninguém não
sobreviveu

a um dia igual à solidão
ou viu o céu

só uma vez.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

pouco


acaso e probabilidade.
a vida é isso

e é pouco.
um período de inscrição,

26 de agosto a 8 de setemebro.

canecas e crenças, datas,

o réquiem de mozart.
a vida é isso

e é pouco.
clarice, gullar, arroz.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

vinho gelado


papéis desbotados
em noites de chuva.

vinho gelado,

esse mês
voltou a fazer frio.

só linguagem não basta,

poesia não é jogo –
ritmo sozinho

não preenche esse branco.

“errar é humano”
depois de cada erro
repetido

e perdão
é o que pedimos
sempre,

sem nunca dar.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

ichiban shibori


hp pavilion, 
macintosh classic 

ibm selectric. 

xícaras de chá, 
ichiban shiboris.

no rádio, 
notícias de assalto
e sibelius, 

talvez
shostakovich.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

recortes


presos entre o diabo 
e um mar azul, 

enquanto o tempo conta moedas 
e entra num bar 
pra tomar café e fugir do frio 

(pra dormir, o melhor 
é uma estação de metrô).

na vida, 
a pergunta que fica é como tanto 
pôde passar tão rápido

(mais uma vez, a tarde 
morreu nas mãos do relógio).

na vida, 
não se mede anseio só em maços
de cigarro 
e recortes de jornal

(mais uma vez, a tarde 
morreu nos trilhos do trem

e ninguém ouviu).

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

cinzas e pó


cinzas e pó.

a vida se recolhe entre 
cerdas de vassoura.

01:14, 3°C. 

blocos de concreto 
sobre vigas de ferro.

o trem solta o freio

e parte.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

o mês era julho


o mês era julho.

palavras ditas 
por skype ou e-mail.

tá horrível, te amo,
falta pouco.

faltar pouco
era quase pior.

domingo, 11 de agosto de 2013

naldecon


térmica de café fraco 
e palavras cruzadas.
vertical, 7 letras:

droga chamada 
de "erva maldita" — 
por quem?

no quarto, à meia-luz, 
teu corpo dorme 
sob cobertas de lã.

no lixo da pia,
cartelas de naldecon.

é domingo; nem 
a tristeza tem gosto.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

agosto


a chuva aperta.
raios cortam o céu
por 1s, 
depois somem. 

agosto, 08:53.

na manhã escura,
carros descem 
a d. pedro a mais 

de 80 km/h,
os faróis acesos.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

a 7 chaves


papéis mais papéis.

barulhos sem dono 
e a escassez 
de xícaras de café.

a mão busca o que já se foi
e a noite cai
fechada a 7 chaves.

o tempo corre. 

terça-feira, 6 de agosto de 2013

trens e obituários


mundo de aço, lâmpadas 
e olhos vermelhos. 
mundo de conversas sobre 
atrasos de trens 
e de tragédias lidas de um teleprompter
entre propagandas de carro.
mundo em que só a economia 
dos obituários
faz jus à morte, então responda 
se a espera não tem corpo, 
de quem são 
os braços nrelógio?