sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

antropofagia


sobre a mesa,
preto e branco, o corpo.

o peito aberto,
o coração à mostra.

apanho, liso
e ainda batendo e levo

à boca.

sobre a mesa,
preto e branco, o corpo

do poema;
o prato do dia.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

nunca mais


lembro como se fosse hoje
do dia em que comprei the penguin book
of american verse
e li pela primeira vez a frase

i have measured out my life in coffee spoons.

foi pouco depois do ano novo
e o inverno castigava quem não tinha
onde dormir.

ali tudo mudou, e a vida
e a poesia nunca mais foram as mesmas.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

em outro lugar


você já disse que não vai mais voltar.
você já falou que não importa mais, mas nunca aprendi
a deixar pra trás

o que passou.

não, não, não adianta ir te procurar.
não, não, não vou te achar,

mas faz mais de 3 anos
que ainda procuro cada vez que acordo de madrugada
suado

com a tua voz na cabeça.

sábado, 14 de dezembro de 2013

e isso sim é solidão


sim, passo muito tempo sozinho. mas
na maior parte das vezes não me sinto sozinho.
é uma questão de rotina, veja bem:
os dias passam, a gente se acostuma. constrói
pontes com o mundo ao redor e a vida

corre normalmente. mas
quando alguém nos lembra o que o amor
é, outro mundo nasce. derruba
todas as pontes e torna o mundo ao redor
desnecessário

até que você se vai e, habitante de mundo
nenhum, me deparo
com essa imensa terra de ninguém

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

o som e a fúria


te encontrou doente num tempo 
em que buscou socorro

na tua cama. num tempo
em que buscou correr de si mesmo,

do mundo. de todos os cantos em
que alguém um dia chorou

de tanto esperar. e cruzou
de ônibus as mesmas ruas, retas. 

os mesmos dias, o mesmo céu. 
os mesmos segundos

do mesmo relógio. a mesma boca,
os mesmos dedos. 

o mesmo segredo. sem
ego, sem medo. sem mais receio.

depois que os prédios acabam


não sei aonde essa rua leva,
sempre reta, depois

que os prédios acabam.

não sei o que esconde
essa noite de inverno, de luzes

e faróis atrás da cerração;
onde começo

e os outros terminam.

domingo, 8 de dezembro de 2013

12:04


dar adeus nunca 
fica mais fácil.

o trem surge, 
encosta na estação

e abre as portas.
a gente se abraça,

se deseja feliz
natal e feliz ano novo

e se separa.
o trem apita, 

fecha as portas
e arranca. 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

pretexto


são 11h e hoje vejo como a geada
pode ser loira, emily.
os olhos doem contra o sol enquanto do outro
lado da rua o doidão grita morgen! e sorri
um sorriso maior
que o de qualquer pessoa sã.

na grama molhada, um maço de pall
mall e um daqueles copos
de coffee to go reluzem e alguém me para
e pergunta
haben sie feuer? e me pergunto

o que eu não daria hoje pra tomar
uma coca contigo, ainda
que esteja um frio de rachar e fosse
só um pretexto e eu passasse o tempo todo
com a lata cheia
na mão porque nem bebo coca.