terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

"A vida é, na verdade, uma batalha. O Mau é forte e insolente;
a beleza encantadora, porém rara; bondade tem a tendência de ser fraca;
tolice tem a tendência de ser rebelde; perversidade a carregar o dia;
idiotas a ocupar grandes lugares, pessoas conscientes pequenos, e a
humanidade de uma forma geral a ser infeliz. Mas o mundo como ele que se impõe
não se trata de uma estreita ilusão, de um fantasma, de um sonho perverso
da noite; despertamos para ele, para sempre e sempre; e não podemos nem
esquecê-lo nem nega-lo nem tão pouco dele livrar-nos."


- Henry James

domingo, 26 de fevereiro de 2012



"Talvez seja essa a sua missão - encontrar a relação entre as coisas
que parecem incompatíveis mas que possuem uma misteriosa afinidade,
absorver cada experiência que venha ao seu encontro sem medo e a saturar
tão completamente que seu poema seja um todo, não um fragmento;
re-pensar a existência humana através da poesia e conceber, dessa forma,
novamente a tragédia e a comédia por meio de personagens criados não
de forma a persevar o máximo possível como o fazem os romancistas,
mas sim de forma condensada e sintetizada como o fazem os poetas - é isso
que esperamos que você faça agora."



- Virginia Woolf



"Qual é o significado da vida? Isso era tudo - uma simples questão;
uma que, como um cerco, tendia a avançar com os anos. A grande revelação
jamais havia vindo. A grande revelação, de fato, talvez jamais viesse.
Em vez disso, alguns pequenos milagres diários, iluminações, palitos de
fósforo riscados de forma inesperada no escuro; aqui estava um.
"


- Virginia Woolf, "To The Lighthouse".

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Well, I Have Lost You, or Sonnet XLVII

by Edna St. Vincent Millay
(tradução minha)

Bom, te perdi; e te perdi com toda a justiça;
À minha maneira, e sem oferecer resistência.
Diga o que quiser, raramente reis em carroças
Se encaminharam pra morte com tanta dignidade.

Certas noites de peito apertado e lágrimas quentes
Confesso; mas é o mínimo a que tenho direito.
O dia secou meus olhos; não nasci pra ser mantida
Com as asas roçando nas grades de uma gaiola.

Se tivesse te amado menos ou com mais astúcia
Talvez tivesse te segurado por mais um verão,
Mas a custo de palavras que muito valorizo,
E nem de longe um verão como o passado.

Caso resista a essa angústia, como os homens,
Só hei de te prestar homenagens.


PS: Still in progress

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

And Still Comes Dawn



For several nights in a roll now
he could not sleep well;
he would move from side to side of the bed for hours
but he would not fall asleep.

It was cold all right, but that was not it
and though he was not supposed to focus on that
there was a dog clearly barking in the distance
and at some point he heard the arrival of the garbage truck.

He shut his eyes closed and took a deep breath
but he could still hear his heart beating loudly.

The pictures she'd sent him came to his mind
and he held on to them hoping
that they could possibly prompt him to dream;
she was beautiful
but it was all very odd.

From over yonder came the sound of broken bottles
against the pavement of the street
and he thought that perhaps, just maybe,
he didn't even want it to be.

Almost delirious from lack of sleep
he felt his love was far too dry for that too,
like that girl from the story, Edna, had said:
it was supposed to be somehow endured, silently
and drive him close enough to madness
so he could touch it.

His love was bound to be torment.
yes, he thought, still lying there awake;
it was simply that kind of love.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Na escuridão daquela tarde




Os Filisteus haviam reunido seu grande exército e montado
acampamento entre Socoh e Azekah, no alto topo de um monte.
O topo de outro monte, oposto e logo à frente, foi ocupado
pelo exército do povo Hebreu.

Entre eles jazia uma profunda depressão, o chamado Vale de Elah.

Por quarenta dias sempre em dois distintos momentos, de manhã cedo
e logo ao anoitecer, o gigante Golías havia tomado posição no vale
e desafiado qualquer Hebreu a vencê-lo em combate;
nenhum deles tinha coragem.

Até que Daví, o oitavo e mais novo filho de Jesse, disse que o enfrentaria.
Daví era pequenino e franzino, Golías tinha mais de nove pés de altura
e trajava uma armadura completa de bronze.

Mas Daví sabia que somente os homens proferem julgamento
baseado em aparências, mas que o Senhor o faz olhando para dentro
do coração de cada um. E mal sabia Golías que o espírito do Senhor
estava com Daví que, sentindo medo, como qualquer um sentiria,
todavia jamais havia deixado de acreditar.

"Eu sou o pastor de meu pai, e quando ocorreu de um urso ou leão atacar
e roubar uma de suas ovelhas, fui eu quem tive que intervir; foi o Senhor
quem me salvou de tanto urso quanto leão, e desta feita não será diferente".

Daví, sem qualquer armadura e carregando somente um funda
e quatro pequenas pedras, plantou os pés no Vale de Elah e, quando viu
o gigante Golías investir contra ele, ao invés de fugir, investiu também em sua direção.
Antes que se encontrassem, Daví tomou de sua funda e lançou com toda força
uma pedra que atingiu Golías em cheio na testa. Golías desabou morto, seu rosto
contra o chão.

Daví teve medo, mas teve fé e também coragem. Havia sido capaz de,
mesmo na escuridão das profundezas do Vale de Elah, encarar o mais
temível de todos os montros nos olhos - e ainda assim não sucumbir.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012


The Man with the Wooden Leg
(poema traduzido de Katherine Mansfield)



Havia um homem que vivia bem próximo de nós;
Ele possuía uma perna-de-pau e um canário em uma gaiola verde.
Seu nome era Farkey Anderson,
E tinha a perna-de-pau porque havia estado em uma das guerras.
Ficavamos todos muito tristes por ele,
Pois ele possuía um dos mais belos sorrisos
E era um homem por demais corpulento para viver em uma casa tão pequena.
Quando caminhava na estrada sua perna não importava
tanto;
Mas quando andava dentro de sua pequena casa
Fazia um som horrível contra o assoalho.
Farkey Anderson disse que seu canário cantava mais alto que qualquer outro
pássaro,
De forma que assim não precisava escutar o som de sua tão miserável perna
E sentir tanta pena de si mesmo.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

E também os Carros Alegóricos



Ele havia adormecido rindo na noite passada
sem saber o porquê.
Mas na manhã seguinte enquanto caminhava
na calçada congelada sentiu o peito arfar
com uma ânsia de pranto.
A garganta se encheu de catarro à medida que os olhos
se encheram de lágrimas e o coração, sem saber razão,
se encheu de dor.

Uma canção que se repetia em sua cabeça,
tola e doce, mas verdadeira, sobre se estar perdido,
preso no meio de um tabuleiro sem entender
e sem jamais saber o porquê.
Mas sabia que já havia tentando sozinho, e que
já havia tentado ser outro, e que em ambos havia falhado.

Havia também aprendido que todo mundo tem medo
mesmo que alguns tivessem, com o tempo, aprendido
a esconder.
Todos, no fundo, perdidos dentro de um só momento,
um dia em um distante passado ou um só segundo
no mais aguardado futuro.

Passou em frente à padaria e comprou um café
com leite e, de volta à rua, ouviu quando uma moça
de meia-idade, fantasiada de policial, afinal de contas
era domingo de carnaval e as ruas estavam tomadas
por pessoas fantasiadas de todos os tipos,
falava ao telefone com a mãe e dizia que sim, que havia chegado
à cidade bem, e que tudo passaria na maior tranquilidade.
Eram dez horas da manhã e a moça já emborcava uma lata
de 500ml de cerveja.

Foi quando ele percebeu que, afastando o copo de papel
de café quente da boca, a vidraça da loja em frente
refletia em seu rosto um sorriso largo.
Riu alto e de forma sincera, e balançou a cabeça de um lado ao outro algumas vezes
e mais uma vez não pôde entender o porquê.


sábado, 18 de fevereiro de 2012

Loneliness
by Katherine Mansfield
(tradução minha)

Agora é a Solidão que vem à noite
Ao invés do Sono, sentar-se ao lado da cama.
Tal criança cansada deito à espera dos passos,
E vejo-a apagar a chama com delicadeza.
Sentada imóvel, nem à esquerda nem à direita
Se volta, e exausta, exausta tomba a cabeça.
Ela, também, está velha; ela, também, lutou a luta.
Logo, veste a coroa de louros.

Na triste escuridão, a maré que recua lenta
Quebra na margem árida, descontente.
Sopra um vento estranho... então silêncio. Estou resolvido
A encará-la, pegá-la pela mão
E agarrar-me a ela, esperando, até que a terra árida
Alague com o terrível, invariável som da chuva. 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012




carne vale



Mas que tolas árvores somos nós
quando erguemos nossos braços na tentativa de alcançar
a noite, implorando por aquilo que não sabemos
o quê.

Pois a verdade é que quando sozinho se pensa na vida,
é triste sempre; toda a alegria possuí então
uma qualidade de abandono
como, se por exemplo, no mais completo silêncio,
se escutasse alguém a chamar teu nome-
pela primeira vez de longe, sem saber de onde
vem.




terça-feira, 14 de fevereiro de 2012


The Witching Hour


he could not stand up in the morning without her.
he was awake now, but he shut his eyes tightly in tense uneasiness.
he did not want to be awake.
he moved his body like one fighting for breath, underwater, all the while knowing
he could not be saved.

in the dark he had her, and it was as sweet as life had been years ago.
how simple it had been, to pass the hours circling round the dinning table, silent,
day-dreaming all along, his mother telling him to quit because that would make him sick.
maybe it did.
he thought about Richard Brautigan and his word that had been so true to him.

the women in his life were after all just like doors, as he once wrote and,
hinged to forgetfulness, they all managed somehow to close
out of sight, the women he loved, gone forever.
he tried also to remember what Saul Bellow wrote about the ghost-hour
but he could not.

there was supposed to be a time of day when demons and ghosts
would appear to haunt us, around midnight they say, at their most powerful manner.
for him that always happened in the morning.
here, still in bed, still half-delirious, he once again had to confront his own ghosts.
they drowned his weak mind in the deep river of memories, pictures of her
that he could not let go.

waves crashed against the back of his head like the ocean did against the Great Barrier Reef.
he longed for the day he would see her again, if that was ever to come.
but Time, as the story of The Fly goes, is a great healer, vanquisher of all the griefs and sorrows of man.
years would pass to ease the wound like lullabies-
and he would at last be lost
from all emotions and memories.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Wanting to Die
by Anne Sexton 
(tradução minha) 

Já que pergunta, na maioria dos dias não consigo lembrar.
Ando nas minhas roupas, sem marcas daquela viagem.
Então o desejo quase inominável retorna.

Mesmo nessa hora, não tenho nada contra a vida.
Conheço bem as lâminas da grama que menciona,
a mobília que colocou sob o sol.

Mas suicídios têm uma linguagem própria.
Tal como um carpinteiro, querem saber com quais ferramentas.
Jamais perguntam por que construir.

Por duas vezes já me declarei de forma tão simples,
possuí o inimigo, devorei o inimigo,
fiz minha a sua vocação, a sua magia.

Dessa maneira, pesada e pensativa,
mais quente que o óleo ou a água,
descansei, salivando pelo orifício da boca.

Não pensei no meu corpo em ponta de agulha.
Até a córnea e o resto da urina se foram.
Os suicidas já traíram o corpo.

Natimortos, eles nem sempre morrem,
mas confusos, não conseguem se esquecer de uma droga tão doce
que até crianças sorririam ao vê-la.

Enfiar aquela vida toda embaixo da língua!—
isso, por si só, se torna uma paixão.
A morte é um osso triste; machucado, diria,

mas que ainda assim me espera, ano após ano,
para desfazer com cuidado um antigo ferimento,
a esvaziar meu sopro de sua prisão cruel.

Equilibrados ali, os suicídios às vezes se encontram,
se enfurecendo com o fruto, uma lua alterada,
deixando o pão que confundiram com um beijo,

deixando a página do livro aberta de qualquer maneira,
algo não-dito, o telefone fora do gancho
e o amor, seja lá o que tenha sido, uma infecção.


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Seize the Day

"Trazer as pessoas para o aqui e agora," disse alguém,
"o universo real. Esse é o momento presente. O passado
não importa. O futuro é preenchido de ansiedade.
Somente o presente é real, o aqui e agora. Seize the day." 


Mas ao mesmo tempo, levando em conta
A existência nele de certos abismos já conhecidos
Por ele próprio, de algum lugar mais do que remoto
Em seus pensamentos ele recebera uma sugestão
De que o real objetivo da vida, the real business-

Era o de carregar o seu fardo tão peculiar, sentir vergonha
E impotência, o gosto das lágrimas reprimidas.

A única coisa importante, aquilo de mais alto valor
Estava sendo feito. Talvez os erros cometidos
Expressassem  justamente o propósito de sua vida toda
E a essência do seu existir aqui. Talvez fosse esperado dele
Que cometesse cada um desses erros cometidos
E que sofresse por cada um deles na Terra.



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

As Auroras do Outono
(poema traduzido de forma livre, de Wallace Stevens) 


Se fosse mesmo verdade que a realidade existe
Na mente: o prato de lata, sobre ele o pedaço de pão,
A faca de lâmina larga, o pouco pra beber e toda a sua

Misericórdia, segue que
O real e o não-real são dois de um mesmo;como New Haven
Antes e depois da chegada de alguém ou, digamos,

Bergamo em um cartão postal, Roma já tarde da noite,
Suécia descrita em palavras, Salzburg sob olhar sombrio
Ou Paris em uma simples conversa em um café.

Esse elaborado poema sem fim
Propõe a teoria da poesia,
Como sendo a vida da poesia. Um mais severo,

Mais rigoroso mestre exteriorizaria
De forma mais sutil, com mais urgência a prova de que a teoria
Da poesia nada mais é do que a teoria da vida,

Como são, na intrínseca evasão do como,
As coisas vistas e as não-vistas, criadas apartir do nada,
Os céus, todos os infernos, os mundos
E os tão sonhados campos.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

So you won't forget



you don't do it to be popular
or to get a few taps in the back.

you donnot do it to talk about it
you don't wanna talk at all.
you just want that anger to became something else
entirely.

you do remember high school;
hard times you wish you'd forget.
but you can't
and past will never let you go.

in the ring, as in every line,
you become what you're bound to be,
no more, no less
only real.

it frustrates you
whenever you cannot express what you feel-
lost, and all alone now
like a castaway floating in the ocean,
you are in your zone now
an absolute poet in motion.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

An Ordinary Evening in New Haven
 (tradução de poema de Wallace Stevens, em "The Auroras of Autumn")


IX


Continuamos voltando de novo e de novo
Ao real: ao hotel ao invés das liras
Que descendem sobre ele através do vento. Buscamos

O poema de realidade pura, jamais tocado
Por metáfora ou devaneio, direto ao ponto,
Direto à transfiguração do objeto, ao objeto

No ponto mais exato em que é ele próprio,
Transfigurando-se puramente por ser o que é,
A vista de New Haven, digamos, através de certo olhar,

O olhar livre de incerteza, com a visão
De simplesmente enxergar, sem reflexão. Buscamos
Nada além da realidade. Dentro,

Tudo, a alquimia do espírito
Incluída, essa alma que anda em circulos
E através da inclusão, não somente do visível,

Do sólido, mas do móvel, o momento,
A chegada de festas e os hábitos dos santos,
O padrão dos céus e o imenso, noctívago ar.