terça-feira, 5 de abril de 2011

a tragédia das folhas
(tradução de Charles Bukowski, "The tragedy of the leaves")


acordei numa secura e as samambaias estavam mortas,
as plantas nos potes, amarelas como milho; minha mulher se foi e as garrafas vazias, como corpos feridos, me cercavam sem qualquer utilidade; porém o sol ainda era bom e o bilhete da senhoria emitia um amarelo tranquilo que não exigia nada em troca: o que era preciso agora era um bom comediante, estilo antigo, um palhaço com piadas sobre o absurdo da dor: a dor é absurda porque existe, nada mais; fiz a barba cuidadosamente com uma velha navalha, o homem que um dia havia sido jovem e que diziam ter algo de genial; mas essa é a tragédia das folhas, das samambaias mortas, das plantas mortas; e eu entrei naquele corredor escuro onde a senhoria de pé aguardava, apocalíptica e terminal, me mandando ao inferno, balançando seus braços gordos, suados e berrando, gritando desesperada por aluguel pois o mundo havia fracassado com nós dois.


Um comentário: