domingo, 26 de março de 2017

palavras são fogo



chaminés de fábrica e curvas de rio.
uns óculos perdidos numa estrada de terra.
famílias morando em calçadas.
pessoas correndo pra manter a forma.
palavras secas, estantes vazias.

alguém numa cadeira de rodas,
o sol no rosto, o sorriso aberto.
alguém tentando se matar tomando drano.
misturando bebida e valiums.
se enforcando com cadarços de tênis.
o desespero não é abstrato.

a gente se põe pouco no lugar dos outros.
diz te amo cada vez menos.
deixa a chuva bater na cara
e aperta espinhos pra ver se acorda.
se ainda sente alguma coisa.

um poema não serve se não corta.
um poema cego, sem fio
é um privilégio de poucos.
de quem pode se dar ao luxo
de brincar com palavras.
pra quem não pode palavras são fogo.
são álcool puro.  


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