quinta-feira, 20 de julho de 2017

até que exploda



o odor de corpos numa sala fechada
pessoas sem casa cruzando
sinaleiras/ vagando pelas ruas de madrugada
as pernas sujas de lama
palavras presas na garganta/ a voz rouca
a boca sedenta/ a pele
descamando sobre as costelas/ lembra
se tomei os remédios?
prédios pegando fogo/ ruas em guerra
calçadas limpas segunda-
feira/ “as ruas não são seguras”/ câmeras
de vigilância/ viaturas
velhas mentiras/ “por que essa gente
não faz algo da vida?” 

o odor de corpos numa sala fechada
pessoas encolhidas sob
marquises de loja/ sobre caixas
de papelão/ cartazes
escritos à mão/ uma lata/ meia-dúzia
de moedas/ uma mala
vermelha/ séculos de sangue e suor
sugados à força/ ruas
cheirando à fumaça/ à gasolina/ quanto tempo
até que exploda


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