segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

toda vez que chove


after Miyó Vestrini


meu coração quebra toda vez que chove

por aqui as sirenes não dão descanso
e até os carros têm som de desalento

na calçada em frente ao bar
pessoas fumam sob o toldo

à espera de mais um ano novo
a vida é uma língua que não falo

e envelheço nas mesmas roupas
e no mesmo vocabulário

por aqui o vento é feito de gritos
e até as paredes choram

meu coração sempre quebra na chuva
as mãos cheias de perda

quanto silêncio pruma dor tão pequena
e tristezas tão privadas

um rosto ruindo em janelas
um trem em movimento

coisas de verdade viram lixo
e sonhos se põe cada vez mais cedo

sem valor de mercado

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