sexta-feira, 12 de junho de 2015

mas sempre carrego




desculpa se tenho andado distante.
desculpa se não tenho dado
a atenção e o carinho que você merece.
é essa mania que tenho
de me fechar em silêncios.
é essa mania que tenho
de esquecer o que você me ensina:

que o amor também mora
nas pequenas coisas. nos gestos
repetidos do cotidiano.
nos eu te amo, mesmo que pela
milésima vez. nos sinto
tanto a tua falta que nem sempre falo
mas sempre carrego.


quarta-feira, 3 de junho de 2015

cada vez mais rápido





pra onde olho, vejo a vida escorrendo.
pra onde olho, vejo escrito: quase trinta anos.
trinta anos como se as lembranças que tenho mal enchem um armário?
trinta anos como se passei a infância pensando em ficar velho?
trinta anos como? me diz, como?
quanto tempo passei dormindo ou sonhando acordado, andando em círculo em volta
de mesas?
quanto tempo perdi pensando no futuro?
quase trinta anos?
quase trinta anos.
quase trinta anos e pra onde olho     vejo a vida escorrendo
cada vez mais rápido.


segunda-feira, 1 de junho de 2015

em cada até logo




a solidão é uma dor a qual a gente se acostuma.
depois de um tempo, mal nota. a rotina

anestesia. quando a solidão é quebrada
e depois retorna, a história é outra. aí a brancura

das paredes salta aos olhos. aí o vazio do quarto
é um poço sem fundo. aí o silêncio sufoca

e a comida não tem gosto. aí arde a perda
contida em cada até logo.


quinta-feira, 21 de maio de 2015

um minuto a mais




de quantas vozes e disfarces
é feita uma pessoa. de quantos erros irreparáveis
e arrependimentos que não matam, mas deixam

feridas que não fecham.
de quantos choros abafados pelo barulho do chuveiro.
de quantos reparos e remendos e partes que quebram

e não têm conserto.
de quantos cantos escuros e quartos trancados.
de quantos sonhos consumidos como

cigarros. de quantos palmos de tristeza
e quilos de solidão. de quanta dor engolida por

um minuto a mais de amor.


sábado, 16 de maio de 2015

no oceano de vozes




a cada dia que passa mais gente fala sozinha.
a cada dia que passa mais me dou conta
de que o abismo que nos separa tem a largura
de um passo. e daí se os lábios não se mexem
e os olhos disfarçam, fingindo ver aquilo 
em que pousam? e daí se as palavras que chegam
à boca se afogam na saliva, se suicidando pouco
antes de nascer? a cada dia que passa 
mais gente fala sozinha. a cada dia que passa 
mais me dou conta de que a solidão é 
a mesma: viver ilhado no oceano de vozes 
que banha as próprias cabeças.