quarta-feira, 18 de junho de 2014

suor e saudade




você diz que faz tempo
que não escrevo
mas todo dia acordo de madrugada
mergulhado em silêncio
até a boca
cercado de paredes brancas

numa delas
um poema de amor colado com durex fala
de cinzas misturadas
e de como você arrastou os pés
quando se foi

depois disso resta pouco
tudo já foi dito
e essa arte hoje se resume a lábios
se movendo
fechados balbuciando palavras
mudas garganta
a dentro

você diz que faz tempo
que não escrevo
e eu digo que faz tempo
que as horas
são cubos de gelo largados na pia
que o chão
é feito de restos de vida

morta
cabelos sebo saliva

suor e saudade


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