terça-feira, 8 de novembro de 2016

por culpa nossa



essa noite sonhei que assoei o nariz
e uma poça de sangue se formou aos meus pés

de manhã assoo o nariz no chuveiro
e vejo ranho correr pelo ralo

fecho os olhos e volto a abri-los
deixo a água quente bater na cara e queimar a pele

você me abraça na cozinha enquanto o café coa
e o pão aquece no forno

o dia amanhece aos poucos
ouço o caminhão de lixo, as gralhas

na rua milhares de folhas amarelas
apodrecem na chuva 

cada dia mais gente pede esmola
e revira lixos atrás de garrafas

cada dia mais gente foge de casa
por culpa nossa

essa noite sonhei que tinha o corpo coberto
de feridas purulentas

de manhã arranco cutículas
até ver a carne ao redor das unhas ganhar vida


Nenhum comentário:

Postar um comentário