segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

cada vez mais nada



como as gralhas-cinzentas aqui da rua
tem gente que se alimenta dos restos de comida em embalagens de plástico.
garrafas vazias, cabeças de fósforo.
o sinal da escola soa no ar frio e seco do inverno.
tonéis de lixo, grades de ferro.
não sei o que essas coisas significam.
é provável que pouco, ou porra nenhuma. a garganta arranhada.
a gente se abraçando no quarto escuro de manhã cedo.
a gente se abraçando em frente ao forno
ou perto do aquecedor a gás sob a luz da cozinha.
a gente se abraçando à noite no meio da sala
as lágrimas se misturando ao vapor do banho recém tomado.
a gente abraçado em silêncio.
palavras se afogando em silêncio.
não sei o que nada disso significa.
os copos de vinho, os de café.
as manhãs escuras de inverno, as noite em claro.
as salas de espera do hospital.
não sei o que nada disso significa.  
presidentes banindo a entrada de pessoas
como se alguém fosse ilegal.
o salão oval redecorado com acessórios de ouro.
o nosso tempo cada vez mais curto. a gente com cada vez mais
nada a perder.


Nenhum comentário:

Postar um comentário