segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

como as árvores sem folha



depois do almoço paro em frente à porta de vidro da varanda
e tomo café vendo a chuva cair.
hoje de manhã coloquei dois pratos na mesa do café
como se você estivesse aqui.
faz uns três dias que não para de chover.

essa noite deixei o computador ligado pra fugir do silêncio.
essa noite deitei no canto virado
pra parede como se não estivesse sozinho.
essa noite passei horas em claro.
essa noite sonhei com pó e baratas e pessoas
invadindo o apartamento.

o café ficou morno, amargo
como o barulho da chuva na janela.
como as árvores sem folha.
como sair na rua todo dia e ver que pra uns terem tanto, outros
têm que ter tão pouco.


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