sábado, 25 de abril de 2015

o que sobra do amor




comendo uma torrada com requeijão
e olhando pra fora pela janela da varanda.
as andorinhas sobrevoando o topo
dos prédios. os cacos dos últimos meses

espalhados pelos azulejos. a mala aberta 
sobre a mesa. as lágrimas morrendo

antes de escorrerem dos olhos. isso é tudo
que sobra do amor toda vez. esse
gosto de poeira. esse aperto sem cura.


sábado, 4 de abril de 2015

depois de sete anos




depois de sete anos, portas e janelas
voltaram a ser abertas. a luz voltou

a entrar. o vento voltou a correr.
depois de sete anos, passos e vozes

voltaram a ecoar. o piso voltou
a ranger. o café com leite em silêncio

voltou a existir. depois de sete anos,
quem a cada dia esquecia mais

e vivia menos ganhou descanso.
depois de sete anos, ganhou alívio,

ainda que doloroso, quem por
sete anos sofreu vendo alguém amado

morrer aos poucos.


segunda-feira, 30 de março de 2015

quarta-feira, 25 de março de 2015




hoje mais do que nunca
queria você ao lado.
hoje sinto o gosto da morte na boca
como cerveja morna.

hoje compro o jornal na banca
pra ver se me distraio.
hoje as palavras são carcaças de automóvel
num ferro-velho.

hoje me sinto velho.

hoje os olhos pesam e as pernas fraquejam.
hoje não consigo
deixar de ver no espelho
o cabelo ralo.
os dentes amarelos.

hoje mais do que nunca
queria você ao lado.
hoje dói a falta de tudo que ainda
não perdi.


sexta-feira, 20 de março de 2015

na linguagem que nos foge




você tomando coca e comendo bolo.
eu sentado de costas olhando pra tv.

os dois putos da cara sem tocar no assunto.

depois, os dois se acusando de coisas
sem importância. um chorando. os dois
machucados, machucando. a gente  
precisa parar de pensar tanto. precisa

se beijar mais e dizer que se ama e
não da boca pra fora ou por força do hábito.
a gente precisa deitar na cama
e deixar que os corpos se entendam

na linguagem que nos foge.


segunda-feira, 16 de março de 2015

cada recanto



o último gole do café é sempre
amargo. penso nisso enquanto leio
essas canções de sonho & marco
versos com canetas fluorescentes.

henry doendo. henry perdendo
partes pelo caminho. henry com
medo. com o coração partido.
henry se fechando em si mesmo.

henry revirando cada recanto
escuro do cérebro. um perigo.
a cabeça é o pior inimigo. o poço
mais fundo.