sexta-feira, 18 de junho de 2010

Apego





sou filho de meu pai
e filho de minha mãe

sou filho do Brasil
e filho alemão de meus avós
vividos de guerra

sou filho da guerra que não lutei
e dos séculos passados que não vivi

sou filho da pátria do mundo humano
e filho bastardo dos astros místicos de outra era

sou filho dos irmãos que tenho
e dos irmãos que fiz ao longo da vida

sou filho querido da palavra que digo
filho de uma língua esquecida
filho da escrita em papéis abandonados pela frieza dos monitores
e pelas teclas rudes do computador

sou filho de tantos países que visitei
e tantas terras distantes que sonhei

sou filho das ruas anoitecidas da cidade que me acolheu menino
récem-nascido
filho do frio de inverno da infância do sul
filho do posto de gasolina da esquina
e de cada calçada em que sentei mais velho pra pensar

sou filho de cada sorriso que vi passar
e de cada lágrima que vi cair

sou filho de um verso inacabado
do eterno poema que levo dentro.

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