terça-feira, 29 de janeiro de 2013

palitos de fósforo, garrafas de cerveja 
e uma pilhas de livros


quando fechou os olhos no quarto,
tudo que enxergou foi o abraço que já não tinha.
lembrou da rua dela, uma subida.
das grades cinzas do portão do prédio
e da cor dos azulejos na fachada.

quando abriu os olhos, na cômoda,
viu o contorno das garrafas vazias,
palitos de fósforo e uma pilha de livros.
as coisas passam tão rápido, pensou.
a gente perde quem mais ama assim, sem notar.
quando a falta adquire gosto, já é tarde demais. 
o cão é sujo mesmo.

fechou os olhos de novo
e lembrou do dia em que tinha ido buscar uma camiseta velha,
a última coisa sua que ela ainda guardava.
do rosto fechado que, de dentro do portão,
estendeu o braço entre as grades,
a camiseta verde naquela mão tão pequena.
lágrimas finas escorriam dos maiores olhos que ele já tinha visto,
azuis, redondos e brilhantes.

a gente carrega o passado
como uma mochila nas costas, pensou,
reabrindo os olhos devagar.
no teto, viu uma sombra correr de uma ponta à outra,
descer pela parede e desaparecer no chão.

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