sexta-feira, 10 de junho de 2016

ensaiando perdas




nesse passo, só vai restar silêncio.

a poesia é um deserto cada vez mais deserto.
poemas são miragens. palavras

têm gosto de areia. de lágrimas espremidas
contra a fronha do travesseiro.

poemas são gralhas-cinzentas
sobrevoando a calçada à procura de comida.

palavras são migalhas. nacos
de pão velho emaranhados em arbustos.

poemas são cavidades ainda
mornas em camas vazias. palavras têm

o cheiro de corpo dos lençóis
desarrumados. poemas são noites em claro

ensaiando perdas.


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