sexta-feira, 17 de junho de 2016

no dia em que ela foi encontrada morta




a sacada, o sofá. a caixa de fósforos no trilho
da porta. a manhã ainda escura. o silêncio,
a chama. mais um dia. dores de um mundo
em madrugada. janelas e mais janelas desamparadas.

o último dia de alguém. foi num hotel
em brugge que escutei a notícia a primeira vez.

o que restou de tudo isso. do pó, do copo.
da fumaça. uma mão ruim de cartas. lembranças
apagadas e um milhão de coisas que não
valem nada. peguei a caneta e um velho caderno
quase em branco e vim tentar entender
um pouco. um encontro no papel. tentar entender
o porquê de achar que tenho que entender.

sensação sem sentido. lições de um mundo
que sabe ser frio, rancor de quem não
sabe perder. é que eu também já morri cem vezes,

mas você agora cansou de voltar. e eu sinto muito
e declaro cem dias e noites de luto.


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