domingo, 4 de dezembro de 2016

a qualquer momento



a penúltima vez que vi meu avô foi num fim de ano na praia.
ele fez uma brincadeirinha que me deixou puto da cara.
passei o resto do tempo emburrado,
como se a vida não pudesse acabar a qualquer momento.
no dia de ir embora nem me despedi.

a última vez que vi meu avô foi no velório, o rosto branco como cera.
“dá tchau pro opa, filho,” disse o meu pai, a voz rouca e doída
mas sem escorrer uma lágrima.
minha mãe conta que a primeira vez que ele conseguiu chorar
a morte do pai foi mais de um ano depois.
mas essa é uma outra história.

nunca esqueço da testa fria do meu avô contra os lábios.
o que não lembro por mais força que faça
é da brincadeirinha que ele fez naquele fim de ano na praia
e que levei tão a sério. 

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